Quem tem dinheiro aplicado em ações ou em fundos de investimentos ou simplesmente acompanha o noticiário sabe que estamos passando por um momento de forte volatilidade. Mas o que isso significa? Será que é normal? E o que fazer?
Elaboramos este artigo para explicar o motivo do sobe e desce da bolsa nos últimos dias e o que está acontecendo com alguns fundos de investimento, de forma que você tenha mais subsídios para entender o que está acontecendo no mercado e o que fazer diante disso.
Os agentes de mercado buscam antecipar o que vem pela frente. Pense, por exemplo, nos resultados das companhias de capital aberto, que são divulgados trimestralmente. Antes da divulgação dos balanços, os analistas projetam como devem ser os resultados daquela empresa.
Se eles vierem em linha com as expectativas do mercado, o mais provável é que os números não tenham grande impacto sobre o valor das ações. Agora, se estiverem acima do esperado, as ações tendem a se valorizar. Caso fiquem aquém das expectativas, é provável que os papéis da empresa sofram alguma desvalorização.
Por que isso acontece? Porque o preço da ação representa o quanto o mercado acha que aquela empresa vale. Quando há informações de que ela pode valer mais ou menos do que se imaginava antes, isso rapidamente é incorporado ao preço do ativo.
Agora, o que isso tem a ver com o comportamento da bolsa em momentos de crise, como a que estamos vivendo em decorrência do surto de coronavírus? Tudo. Vamos lembrar que as ações negociadas na bolsa são ações de empresa “de carne e osso”, que vivem no mundo real.
Assim, o que acontece na economia também as impacta, ainda que não de modo totalmente homogêneo. Quer um exemplo? As empresas de álcool em gel estão valorizadas nessa crise, porque produzem um item que está com grande demanda no mercado. Já companhias que se dedicam à área de eventos estão perdendo valor de mercado, porque as pessoas estão impedidas de circular na rua e de participar de atividades que reúna muita gente no mesmo espaço.
Isso significa que, quando existe uma expectativa de crise econômica, os investidores entendem que as empresas — e seus resultados — também serão impactados. Por isso, o mercado de ações reage com queda nesses momentos.
Quem passou a investir na bolsa nos últimos anos pode ficar assustado, mas a verdade é que esta não é a primeira e muito provavelmente não será a última vez que vemos turbulências no mercado.
Os mercados de risco são os que mais sofrem em momentos de incerteza, porque os investidores costumam procurar opções consideradas mais seguras, como os títulos do Tesouro norte-americano, até que o cenário fique mais claro.
Portanto, é preciso ter em mente que a volatilidade faz parte do mercado e que é assim que esses ativos se comportam em períodos de incerteza. Hoje, passamos por um período de incerteza sem precedentes no passado recente. A pandemia do Covid-19 é uma ameaça global, que está impactando fortemente todos os países e empresas e, por enquanto, é difícil sabermos quanto tempo vão durar os seus impactos para economias e empresas. Para quem investiu em produtos arriscados, de maiores risco e rentabilidade esperada, é a hora de refletir o quanto esses investimentos realmente estão adequados ao seu perfil.
Todos devem estar preocupados com seus investimentos agora. E é natural que isso ocorra. Afinal, nossos investimentos são na verdade nossos planos para o futuro. Como o futuro agora é muito incerto, ficarmos apreensivos em relação a ele é um sentimento normal. O que fazer? Respirar fundo e não tomar nenhuma medida precipitada. Para muitos investimentos, como ações, por exemplo, resgatar tudo agora pode significar realizar um prejuízo desnecessário caso o seu horizonte seja de longo prazo. Então, todo mundo deve se esforçar para não tomar decisões de aplicação e resgate motivados pela emoção e pânico. Procure por informações de fontes seguras, converse com especialistas sobre seus investimentos e invista tempo e reflexão antes de tomar qualquer decisão.
Praticamente tudo o que dissemos acima vale também para os demais mercados, e não apenas para a bolsa de valores. Em períodos de incerteza, todo mundo fica mais conservador e procura aplicações de menor risco. Isso impacta, inclusive, o mercado de renda fixa, incluindo títulos privados e públicos, especialmente os prefixados e indexados à inflação, com prazo de vencimento mais longo.
Por que o mercado de renda fixa é impactado? No caso dos títulos de renda fixa privado – ou seja, papéis emitidos pelas empresas – a lógica é a mesma das ações. Pense numa debênture: quando um investidor compra uma debênture, na prática ele está comprando uma dívida da empresa. A companhia promete devolver o dinheiro em determinado prazo, pagando juros. Com toda essa incerteza, os investidores também começam a avaliar se a capacidade da empresa pagar será afetada. Se é uma empresa cujo negócio será muito impacto, ela provavelmente vai perder receitas, vai ter prejuízo e pode ter dificuldades de quitar suas dívidas e honrar compromissos. Por isso, o valor das debentures da empresa cai: esse risco, da empresa não pagar, chama risco de crédito. E ele cresceu com o impacto das quarentenas e medidas de restrição impostas em todo mundo.
Outro fator que impacta a renda fixa é o prazo de vencimento do título. Quanto maior o prazo, maior é o risco, uma vez que ninguém pode prever com certeza o que vai acontecer daqui a 20 ou 25 anos. Se pensarmos bem, isso é verdade não apenas para o mercado financeiro como para qualquer coisa na vida, não é mesmo?
Assim, o mercado de renda fixa não escapou da turbulência dos últimos dias e o Tesouro chegou a interromper a compra e venda de títulos públicos. Vale lembrar que não é a primeira vez que isso ocorre. Em maio de 2018, por exemplo, em meio a um anúncio de alta nas taxas de juros norte-americanas, as operações no Tesouro Direto também chegaram a ser suspensas.
Bom, e em relação aos fundos de investimento? Grande parte dos fundos tem em suas carteiras títulos de renda fixa, públicos e/ou privados, e ações. Dessa forma, é de se esperar que eles também sofram perdas em períodos de volatilidade.
Esse impacto pode ser maior ou menor dependendo da composição da carteira do fundo. Quando ele tem uma carteira formada majoritariamente por ativos de baixa liquidez, como no caso dos que aplicam em títulos de crédito privado, e os cotistas fazem muitos pedidos de resgate, o fundo pode ter que vender esses ativos com deságio ou mesmo ter dificuldades para conseguir se desfazer de suas posições.
Da mesma forma, fundos imobiliários também sentem os abalos na economia. Pense em um fundo imobiliário que tenha na carteira shoppings e hotéis, por exemplo. Durante a quarentena, os shoppings ficam fechados e os hotéis, vazios. Isso pode levar os lojistas dos shoppings a tentarem renegociar aluguéis, além de afetar diretamente o faturamento dos hotéis. Nesse caso, impactaria também o fundo imobiliário que tivesse esses ativos em carteira.
Por isso, quando fazemos um investimento, é sempre importante entender quais são os riscos daquela aplicação. A volatilidade é algo inerente ao mercado e deve ser encarada como tal. Conhecer bem as características de cada investimento evita surpresas desagradáveis e permite ao investidor passar por momentos de crise com mais serenidade.
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