Muitas pessoas acreditam que acompanhar os movimentos de uma moeda estrangeira, como o dólar, serve apenas para quem deseja sair do país, seja para viajar ou por outro motivo. Porém, mesmo que você não esteja com alguma viagem marcada, as oscilações no câmbio afetam o seu cotidiano de diversas formas.
Além disso, se você já investe ou pretende começar a investir, a variação das moedas estrangerias em relação ao real também geram impactos na sua carteira de investimentos. Então que tal aprender como esses efeitos acontecem e como proteger seu portfólio dos movimentos cambiais?
Ao continuar a leitura deste artigo, você vai descobrir como a moeda estrangeira impacta os seus investimentos aqui no Brasil e quais são os principais pontos de atenção.
Acompanhe!
Primeiro, é preciso entender alguns termos básicos. Por exemplo: você sabe a diferença entre câmbio e taxa de câmbio? E, quando você lê ou escuta a frase “hoje, a taxa de câmbio apresentou uma leve valorização”, você sabe o que isso significa?
Para começar, é importante saber que câmbio é o termo utilizado para definir a troca entre duas moedas. Ou seja, quando há a necessidade de trocar uma moeda por outra, seja para viagens ou para a compra de algum bem ou serviço estrangeiro, estamos falando de uma operação de câmbio. Essa troca pode ser real por dólar, real por euro, dólar por euro; enfim, qualquer operação onde haja a troca de uma moeda por outra. Beleza?
Já taxa de câmbio é a relação entre duas moedas, ou seja, a taxa de câmbio é o preço relativo entre duas moedas diferentes. Por exemplo: a taxa de câmbio entre real e dólar mostra quantos reais são necessários para comprar 1 dólar.
Agora, quando se fala que houve uma valorização cambial, ou que a taxa de câmbio se valorizou, estamos dizendo que a moeda estrangeria está mais barata. Ou seja, o real se valorizou diante do dólar, logo precisamos de menos reais para comprar 1 unidade da moeda estrangeira.
Já quando falamos que houve uma desvalorização cambial, estamos dizendo que o real se desvalorizou, ou seja, precisamos despender mais reais para comprar moeda estrangeira. Por exemplo: se houve uma desvalorização cambial do real para com o dólar, precisaremos de mais reais para comprar 1 dólar.
Fácil, não é mesmo?
Um outro ponto importante é saber que a valorização ou desvalorização cambial vai depender de quanto de moeda estrangeira um país detém. Por exemplo: se entram mais dólares no Brasil do que saem, haverá uma oferta maior de dólares, logo o dólar se desvaloriza em relação ao real. Se saem mais dólares do que entram, o dólar se valoriza, ou seja, sobe de preço. Tudo isso acontece por conta da lei da oferta e da demanda: quanto maior a procura, maior o preço; quanto menor a procura, menor o preço.
Essa entrada e saída de dólares em um país depende de muitos fatores, dentre eles o comércio de produtos e serviços que o país tem com o resto do mundo.
O próximo passo para você entender como a oscilação de uma moeda estrangeira pode afetar o seu dia a dia é descobrir o que torna essas variações tão relevantes na economia. Em geral, parte desse cenário é explicado pela existência do comércio internacional, como trocas de serviços e mercadorias entre países.
Para realizar os acordos internacionais de maneira simples, é preciso o uso de uma moeda estrangeira de referência. Atualmente, o dólar americano cumpre esse papel.
Então, quando os contratos de exportação são firmados no Brasil, o dólar tende a ser escolhido como base para a negociação. Nesse sentido, quando o dólar está apreciado (ou seja, quando o dólar vale mais que o real; em outras palavras, quando precisamos de mais reais para comprar 1 dólar), as exportações brasileiras são mais lucrativas.
Acontece assim: suponhamos que você está no Brasil e vendeu 1.000 unidades de um determinado bem, como maçãs, por exemplo. Cada maçã você vendeu por U$ 1,00. Ao final dessa operação de venda, você receberá U$ 1.000,00, correto? Agora suponha que cada U$ 1,00 corresponda a R$ 5,00. No final dessa operação, você terá R$ 5.000,00.
Agora suponhamos que você tenha vendido as mesmas 1.000 unidades de maçãs, só que agora o dólar esteja depreciado (ou seja, precisamos de menos reais para comprar 1 dólar). Nesse caso, você vendeu U$ 1.000,00, mas dessa vez cada U$ 1,00 vale R$ 2,00. Você então receberá R$ 2.000,00.
Veja que, para quem exporta, o dólar estar apreciado (valendo mais) traz mais vantagens financeiras.
Por outro lado, para quem compra mercadorias importadas, o dólar estar apreciado não é tanta vantagem assim. Basta você pensar na situação oposta, se você estivesse comprando as mesmas maçãs por U$ 1,00 cada. No primeiro exemplo, você, como comprador, estaria desembolsando R$ 5.000,00 e, no segundo caso, estaria desembolsando R$ 2.000,00. Ou seja, para quem precisa comprar produtos e serviços externos, a vantagem é que o dólar esteja cada vez mais baixo.
Como você acabou de descobrir, a desvalorização cambial nem sempre é positiva para todos na economia. Afinal, embora os exportadores passem a ganhar mais, os importadores sentem os efeitos contrários diante desse movimento.
No caso do Brasil, é comum que exista uma importação frequente de produtos, insumos e componentes que abastecem a indústria e o comércio. Como consequência, os contratos costumam ser pagos em dólar — mesmo que o fornecedor não seja dos Estados Unidos.
É por isso que, quando o dólar dispara, diversos produtos do mercado também aumentam de preço. A gasolina, por exemplo, tem o preço atrelado ao barril de petróleo, que é fixado em dólares. Se essa moeda passa por uma valorização em relação ao real, os custos se tornam maiores.
Aqui, o problema é que os gastos podem ser repassados para toda a cadeia produtiva — ou seja, desde o produtor ou fabricante até o consumidor final. Como consequência, a oscilação positiva de uma moeda estrangeira, isto é, a desvalorização cambial, pode afetar negativamente a economia brasileira.
Além do que você viu até aqui, é importante entender quais são os regimes cambiais existentes nos países. Eles também são conhecidos como sistema cambial e ajudam a determinar a formação da taxa de câmbio entre as moedas.
As principais alternativas são:
Você descobriu os principais impactos da variação da moeda estrangeira na economia e no cotidiano, certo? Porém, também é preciso considerar os possíveis efeitos dessas oscilações sobre a sua carteira de investimentos.
Na sequência, você vai entender como alguns investimentos são afetados pelas mudanças no preço da moeda estrangeira. Confira!
Como você acompanhou, o aumento do dólar no mercado pode encarecer diversos insumos e itens da cadeia produtiva. Como consequência, tende a ocorrer uma elevação nos preços de produtos e serviços, resultando em uma inflação elevada.
Para controlar esse avanço de preços, o Banco Central costuma elevar a Selic, a taxa básica de juros da economia. Quando ela fica mais alta, por exemplo, o crédito fica mais caro e o consumo é desestimulado. Isso pode incentivar a redução de preços, ajudando no controle da inflação.
Nesse caso, as alternativas de renda fixa pós-fixadas podem se tornar mais atrativas para os investidores. Como as aplicações dessa classe têm retornos impactados pela Selic, de maneira direta ou indireta, o aumento da taxa pode elevar a rentabilidade dos títulos.
Por outro lado, para os investimentos em renda fixa prefixada ou híbrida, o aumento da Selic tem um impacto negativo.
Também é interessante conhecer os impactos nos fundos de investimento. Em relação aos fundos de ações, eles podem ou não se beneficiar do aumento do dólar. Isso porque esses veículos financeiros podem ser formados por ações de empresas ligadas a diferentes setores e também podem ter, em suas carteiras, empresas no exterior –e essas carteiras podem ter proteção ou não ao dólar.
Se o segmento das companhias que compõem o fundo se beneficiarem das exportações, a valorização da moeda estrangeira pode melhorar os resultados da empresa e de suas ações, beneficiando os fundos que investem nelas.
Por outro lado, uma carteira formada por empresas importadoras ou que tenham dívidas em dólar pode sofrer quedas se a moeda norte-americana estiver em alta. Assim, os impactos dependem das características do fundo e sua estratégia de alocação.
Para os fundos de ações que possuem empresas no exterior, caso não tenham proteção cambial, eles podem se beneficiar com o aumento do dólar.
Os fundos cambiais investem a maior parte dos recursos em ativos relacionados à moeda estrangeira.
Em geral, esses veículos podem servir tanto para você aproveitar os movimentos de alta quanto para se proteger deles. Vale saber que os fundos cambiais estão entre os principais investimentos afetados diretamente pelas mudanças na cotação das moedas no mercado.
Já os fundos multimercados contam com mais liberdade para definir a estratégia de investimento que será colocada em prática pelo gestor. Desse modo, eles podem ser compostos tanto por investimentos de renda fixa quanto de renda variável. Ainda, esses fundos podem ter ativos internacionais em seu portfólio.
A princípio, o efeito da oscilação da taxa de câmbio tende a ser mais intenso em veículos financeiros com exposição à moeda estrangeira afetada.
Nesses casos, tanto movimentos de valorização quanto de desvalorização cambial podem ser vantajosos. Na prática, o resultado dependerá dos objetivos do fundo e das decisões do gestor a respeito das operações que serão realizadas.
Agora você sabe como a taxa de câmbio e o comportamento de uma moeda estrangeira podem afetar seus investimentos. Com o conhecimento necessário, você tem a chance de proteger sua carteira desses movimentos ou aproveitá-los em busca de lucros, se fizer sentido para sua estratégia enquanto investidor.
Quer saber mais sobre as diferentes taxas cambiais que podem existir no mercado? Veja as diferenças entre dólar comercial e dólar turismo!
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